Ela acorda, tenta colocar algo no estômago, sem muito sucesso. No almoço, também não se sai muito bem. Então ela decide imergir no mundo fantástico de seu livro para esquecer da vida real. Funciona. Por longas horas ela se perde entre florestas, casas e colégios que só existem nas páginas ásperas do livro.
Infelizmente ela é obrigada a voltar a olhar para o mundo no qual vive. Ela larga o livro sobre a cama e vai para suas obrigações. Mas apenas seu corpo estava lá. A mente esteve vagando durante todo o tempo. Todo o tempo ela esteve alheia às coisas que aconteciam ao seu redor. Não prestara atenção a nada do que lhe foi dito. Não ouvia nem mesmo suas próprias palavras, que ela só dizia quando julgava serem de extrema necessidade.
Ela vai até a janela e olha para o céu que escurecia rapidamente, depois para os carros passando na rua. Ela fecha os olhos e sente o vento bater em sua face, fazendo seus cabelos castanhos dançarem enquanto ela pensa sobre sua vida. Ela abre os olhos fitando as grades da janela e se lembra da prisão onde é obrigada a habitar.
Novamente ela fecha os olhos. Em uma alegria irônica e masoquista, ela percebe que se dá bem com a solidão. Apesar de se sentir carente algumas vezes, ela adora a morbidêz e o silêncio que a solidão proporcionam. Ela se sente bem assim. Ela compreende que ela não precisa esperar por alguém que faça a diferença em sua vida, ela mesma pode fazer a diferença em sua vida, se quiser.
Ela se afasta da janela, mas, por algum estranho motivo, continua a procurá-la com os olhos. Talvez para se lembrar de sua condição de prizioneira, talvez para tentar fazer seus pensamentos se organizarem, talvez simplismente para fitar o céu, que agora já seguia negro na noite fria.
Ela se senta em um canto, solitária. Fecha os olhos nervosa, desejando, com todas as forças que lhe restam, desaparecer. Ela abre os olhos e constata, decepcionada, porém nada surpresa, que seu desejo não foi realizado, então ela começa a pensar que talvez ela se sentiria melhor se parasse de respirar, e assim ela tenta executar essa última idéia desesperada, novamente sem sucesso.
Ela ri de sua tamanha insanidade, e então percebe que talvez sua prisão não sejam as paredes que a cercam, mas sim os sonhos que a inundam, que a prendem, que a sufocam. Sonhos que a enlouquecem, que não a deixam pensar. Sonhos dos quais ela simplesmente não pode se libertar.
sábado, 23 de agosto de 2008
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2 comentários:
E quem, se não ela, pra quebrar os muros que construiu?!
Já me senti assim, e acho que ainda estou em processo de demolição.
.. e mais uma vez a gnt passa pelo mesmo momento ao mesmo tempo.
Entendo o que vc diz sobre os sonhos, as vezes eles parecem tão distantes e abstratos que seria melhor não sonha-los.
Ficar sozinha as vezes chega a ser uma necessidade.
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